quinta-feira, 18 de junho de 2009

Entevista - Alexandre Gamela



O blog Influências esteve à conversa com Alexandre Gamela via Twitter, como não poderia deixar de ser, ou não fosse esse o tema desta reflexão. A convite do Influências o jornalista freelancer e responsável pelo blog O Lago que se tem dedicado ao estudo dos Novos Media responde agora a algumas questões sobre a forma como o Jornalismo e o Twitter se podem relacionar.



-A importância do Twitter como ferramenta de breaking news já é reconhecida. O imediatismo e facilidade de difusão da informação disponibilizada pelo Twitter são algumas das vantagens que podem tornar esta ferramenta um importante aliado do jornalismo. De que modo podem os jornalistas tirar partido do Twitter no exercício das suas funções?

A grande vantagem do Twitter é que, se for bem monitorizado, pode fornecer informações sobre acontecimentos no momento em que eles acontecem, passe o pleonasmo. Isso foi comprovado no terremoto na China o ano passado, no acidente do rio Hudson, noutro terremoto em Los Angeles que já tinha sido twittado ainda antes de o chão ter parado de tremer. Mas não é só o imediatismo, é a partilha e a discussão que valorizam o Twitter. Com a devida atenção, um jornalista pode sentir e perceber os padrões de comportamento e opinião dessa imensa ágora, com uma consciência própria, colectiva, e entender o que é que esse grupo de pessoas pensa, e detectar padrões. Podem ainda descobrir temas novos, novas preocupações, ideias ou pessoas fora do grupo de especialistas que o rodeiam, mas que sabem muito sobre um determinado assunto. Ou então discutir um determinado assunto com a sua rede de contactos que valorize o seu trabalho e reputação ou então muito simplesmente pedir ajuda, porque o Twitter não é uma rede de difusão, mas um canal de partilha.

-À medida que a rede foi crescendo, muitas empresas perceberam o seu potencial comercial e passaram a utilizá-lo para divulgar os seus projectos e produtos. Se nos meios de comunicação tradicionais sempre existiram problemas/renitência em associar o Jornalismo e a Publicidade como será possível no meio digital (neste caso no Twitter) o leitor diferenciar publicidade de informação?

Os utilizadores, devido à atitude activa que o meio exige, não são burros, e diferenciam quando a mensagem tem valor publicitário. E valorizam a mensagem publicitária quando ela traz algo de novo e interessante. Depende de que publicidade estamos a falar: a auto promoção no Twitter é normal, mas se for abusiva os utilizadores desligam da fonte (se colocar demasiados títulos ou temas inúteis); na promoção de outros produtos, acho que não há grande espaço, e se for algo não assumido, com o intuito de "enganar" o utilizador não resulta. Com o Twitter estamos todos ao mesmo nível, e a transparência é muito importante. Se uma pessoa que eu sigo enganar alguém, toda a gente vai ficar a saber, e a sua reputação - e o número de seguidores - irá diminuir. Mas em 140 caracteres não há espaço para as duas coisas.

-Considera legítimo um jornalista fazer publicidade no seu Twitter pessoal?

Depende da publicidade. Se for um patrocínio a um fotógrafo freelancer que usa a marca X eu acho que o deve fazer, desde que seja claro a assumir esse patrocínio. Ou um jornalista que tenha o apoio de uma rede de telemóvel, e tenha o computador, o telefone, a ligação de Internet tudo por conta deles, por mim tudo bem desde que o jornalista assuma isso. E até pode fazer notícias sobre telecomunicações ,que eu sei que ele é pago por uma das empresas do ramo e posso filtrar melhor a informação (até pode ser que seja um bom jornalista e se mantenha isento). Agora fazer publicidade do tipo "hoje está calor vou beber GUARANÁ" num tweet e logo noutro "Guaraná é mesmo bom" e "Já bebeste Guaraná hoje?", bem, nem seria unfollow, era block no Twitter com um recado com o que ele podia fazer com a garrafa de Guaraná. Isso porque eu percebia que era publicidade - para além de ser chato. Mas, mais uma vez, se for tudo feito às claras, sem dissimulação, creio não haver problema. Mas é um assunto complicado, porque há outros valores que podem ser postos em causa no olhar da opinião pública. Em Portugal não se pode fazer trabalho como jornalista por um tempo se um profissional der a cara por uma marca. Assim é mais seguro, mas há muitas variáveis a ter em conta. Em certos casos considero legitimo, mas é algo a evitar.

- Existe assédio por parte das marcas e das agências de marketing digital no Twitter? De que modo pode ele ser denunciado?

O maior erro de quem quer fazer publicidade no Twitter é querer adicionar milhares de utilizadores, muitas vezes sem ter nada de interessante para partilhar. Não é assim que funciona, o ideal é fazer com que os utilizadores adicionem a marca por vontade própria, e partilhar e dialogar com eles. É preciso criar uma relação, e isso não acontece de um momento para o outro. É preciso dar e saber ouvir. Senão, é denunciado como spam, ou absolutamente destruída entre os utilizadores, que acabam por bloquear. É feio ter alguém que não te conhece bem a dizer coisas que não te interessam e não te ouve de volta certo? No Twitter é igual.

-Tornar-se-á esta ferramenta um apoio aos jornais online? Considera que esta poderá ser uma plataforma para o chamado “jornalismo do cidadão?


Já é, basta olhar para os exemplos que dei antes e para o que se passa agora no Irão. Os jornalistas não podem fazer o seu trabalho no terreno mas os utilizadores iranianos estão a partilhar a informação via Twitter e ferramentas associadas. Para os jornais é uma forma de difundir o seu trabalho mas também de interagir com a comunidade, porque cada o jornal tem que fazer isso com a sua, senão não tem valor nenhum. Fora também o que disse sobre como podem tirar partido do Twitter.

-O conhecimento das diversas linguagens da Web e de ferramentas como o Twitter deveriam fazer parte da formação de qualquer jornalista?

Agora essas competências fazem parte do b-a-bá do jornalismo, quer queiram quer não. E se formos especialista numa mas aprendermos um pouco de tudo e estarmos atentos ao que se passa, não haverá grandes problemas. Acabou o tempo do monojornalismo. Acima de tudo é preciso saber escrever e analisar, depois se souber ler para o microfone, fazer video, ou uma apresentação multimédia, tanto melhor. Porque todos os meios - jornal, rádio, TV - usam a Internet. Se não usam é melhor dedicarem-se a fabricar papel de embrulho. E como a característica principal de qualquer jornalista deveria ser a curiosidade, creio que a deviam ter em relação às novas tecnologias. Mas, é preciso dizer, nem todos os jornalistas terão que fazer isso tudo, há uns que farão apenas texto, apenas video, apenas rádio. Porquê? Porque são os melhores a fazê-lo. Os restantes terão que aprender.

-Em 140 caracteres dê a sua definição pessoal da influência que o Twitter tem no Jornalismo.

O Twitter alterou a lógica do percurso,velocidade e construção da informação noticiosa de forma definitiva.No entanto,é apenas o começo.

Sem comentários: